SOU FELIZ: UMA MENSAGEM DE ESPERANÇA

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Projeto de Pesquisa apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Língua Portuguesa II do Curso de Licenciatura em Música da Faculdade Nazarena do Brasil, sob a coordenação da Profª Maria Eugenia Cury Revoredo.


IDENTIFICAÇÃO DO HINO

            “Sou Feliz”
            Título original: “It is Well with My Soul”
            Letra de Horatio Gates Spafford
            Música de Phillip Paul Bliss
            Tradução de William Edwin Entzminger

   
INTRODUÇÃO

            Os hinos começaram a ser escritos na época de Martinho Lutero, que aproveitou os hinos medievais até canções populares de sua época, cuja letra era substituída por letras religiosas. Eram canções de cavaleiros e montanhescas transformadas em canções cristãs e morais. Lutero proporcionou ao povo alemão acesso à Bíblia na sua própria língua e também o hinário. Isso foi uma imensa contribuição para o melhor entendimento de todos os seus sermãos e teses.
            Outro estilo musical para o canto congregacional foi difundido por Calvino, que acreditava que somente os salmos da Bíblia poderiam ser cantados para Deus.
            A Inglaterra influenciou a salmódia americana e o uso dos salmos permaneceu na Inglaterra até o século XVII, passando à hinódia devido falta de contextualização dos salmos à realidade do cristão inglês provocando mudanças. Com a hinódia estabelecida pelas igrejas independentes, surge um movimento religioso de reavivamento espiritual. Nesse contexto a produção de hinos foi imensa, sendo escritos, somente por Charles Wesley, cerca de 6 mil hinos.
            Na América houve um período de transição da salmódia para a hinódia. O fato decisivo para a incorporação do hino neste país se deu por influência do grande reavivamento espiritual ocorrido na Inglaterra.
            Os acampamentos iniciados por pastores presbiterianos e metodistas contribuíram para a produção musical de caráter popular, e a Associação Cristã de Moços incentivou o avivamento religioso e o evangelismo das massas. Muitos evangelistas estavam ligados a essa associação, inclusive Dwight L. Moody.
            Phillip Bliss produziu o primeiro hinário evangelístico, que teve sucesso imediato. Vários cantores dessa época foram pelas igrejas difundindo o cântico evangelístico, que tinha uma linguagem simples, de fácil entendimento e adaptada às massas.
            Com esse movimento de reavivamento iniciado na Inglaterra, o século XIX foi palco de grandes reavivamentos da igreja cristã em todo o mundo, com milhares de pessoas renovando sua fé ou convertendo-se ao cristianismo. Esse movimento foi muito forte nos Estados Unidos, trazendo, inclusive, a responsabilidade e amor de uns pelos outros, e a necessidade de os escravos serem libertados. Também nessa época o pensamento de que os judeus deveriam ter de volta Jerusalém tomou maiores proporções, com o chamado Movimento Sionista Cristão, levando um grupo de cristãos norte-americanos a fundar a chamada Colônia Americana de Jerusalém. Grandes pregadores se destacaram nessa época, como Moody, Billy Sunday, William e Catherine Booth (fundadores do Exército da Salvação).


BREVE HISTÓRICO

            Em 1871, Chicago, nos Estados Unidos, era o maior entreposto mundial de madeira e, em consequência de uma grande seca e um incêndio iniciado num estábulo, a cidade foi devastada pelo fogo, no que ficou conhecido como o Grande Incêndio de Chicago. Centenas de pessoas morreram, milhares ficaram desabrigadas e o prejuízo foi de milhões de dólares.
            Horatio Spafford, um advogado próspero e devoto da igreja Presbiteriana vivia com sua esposa, Anna, e suas quatro filhas em Chicago, e perdeu tudo o que tinha com sua firma de advocacia. Dois anos depois, ele e a esposa resolveram que precisavam tirar umas férias com amigos na Europa, porém um compromisso de trabalho de última hora fez com que Horatio se separasse da família para que viajasse depois de alguns dias. Ele se despediu de sua esposa e suas quatro filhas, Annie, Maggie, Bessie e Tanetta, que embarcaram no navio a vapor Ville Du Havre.
            Em 21 de novembro de 1873, enquanto atravessava o Atlântico, perto da Inglaterra, o navio foi atingido por uma embarcação de ferro, levando o Ville Du Havre a pique e levando consigo a vida de 226 pessoas, incluindo todas as quatro filhas da família Spafford. Dez dias depois, Anna, que sobrevivera à tragédia, chegou à Inglaterra e de lá enviou o telegrama para seu marido, que começava com a mensagem “Salva sozinha”. Horatio então viajou à Inglaterra para encontrar e trazer sua esposa de volta. No caminho, próximo ao local onde a tragédia acontecera, o capitão do navio mandou chamá-lo, e indicou o local para ele. Crendo que suas filhas não estavam ali, mas sim no Paraíso, pegou uma folha de papel e começou a escrever o hino “Sou Feliz com Jesus” (“It Is Well with My Soul”, que traduzido significa “está tudo bem com minha alma”).
            Horatio Spafford pediu ao seu amigo Philip Bliss, hoje considerado o segundo mais famoso escritor cristão de hinos da história, para escrever a música para seus versos. O hino foi apresentado pela primeira vez num culto de Moody em Chicago, em Novembro de 1876. Um mês depois, Philip Bliss foi morto num acidente de trem.
            Depois desses eventos, a família Spafford ganhou mais duas filhas e um filho, Gracie, Bertha e Horatio, porém o menino morreu de escarlatina ainda na infância. Deixaram os Estados Unidos e se mudaram para Jerusalém, onde foram os fundadores, junto com seus seguidores, da Colônia Americana de Jerusalém, para ali aguardarem pela Segunda Vinda de Cristo, repartindo tudo o que tinham e vivendo em comum, buscando uma vida simples e ajudando aos necessitados. Apesar de nunca serem missionários, fundaram ali uma igreja e se autodenominaram “Os Vencedores”. Ali, serviam os árabes, judeus e beduínos além da cidade e além do rio Jordão, e logo ficaram bem conhecidos pelos seus atos de benevolência, adquirindo assim uma boa relação com a comunidade local.
            Atualmente, a Colônia Americana de Jerusalém é o American Colony Hotel, um luxuoso hotel cinco estrelas que ainda é administrado por membros da família dos fundadores.


LETRA DA MÚSICA

Original
When peace, like a river, attendeth my way,
When sorrows like sea-billows roll,
Whatever my lot, Thou hast taught me to say,
It is well, it is well with my soul.

Thou Satan should buffet, tho’ trials should come,
Let this blest assurance control,
That Christ hath regarded my helpless estate,
And hath shed His own blood for my soul.

My sin! Oh, the bliss of this glourious thought!
My sin! Not in part but the whole,
Is nailed to His cross and I bear it no more;
Praise the Lord, praise the Lord, oh, my soul.

And, Lord, haste the day when the faith shall be sight,
The clouds be rolled back as a scroll,
The trump shall resound, and the Lord shall descend
Even so –it is well with my soul.
Versão em Português
Se paz a mais doce me deres gozar,
Se dor a mais forte sofrer,
Oh! Seja o que for, Tu me fazes saber
Que feliz com Jesus sempre sou.

Embora me assalte o cruel Satanás,
E ataque com vis tentações;
Oh! Certo eu estou, apesar de aflições,
Que feliz eu serei com Jesus!

Meu triste pecado, por meu Salvador,
Foi pago de um modo cabal;
Valeu-me o Senhor, oh! Mercê sem igual!
Sou feliz! Graças dou a Jesus!

A vinda eu anseio do meu Salvador;
Em breve virá me levar
Ao céu, onde vou para sempre morar
Com remidos na luz do Senhor


APRECIAÇÃO CRÍTICA

            Horatio Spafford escreveu, em inglês, a letra deste hino, em inglês, no mesmo local onde ocorreu o naufrágio e começa falando da paz que ele tinha na alma mesmo em meio à tamanha dor sofrida pela imensa perda. Utiliza-se de uma linguagem metafórica relacionando as tristezas com as ondas do mar e a paz como um rio em seu caminho.
            “Quando a paz, como um rio, atravessa o meu caminho
            Quando tristezas como as ondas do mar me inundam”
           
            Ainda que passasse por provações, tinha a segurança da salvação em Cristo e, mesmo que o Jordão viesse sobre ele, não provaria dor intensa, pois tanto na morte como na vida, em Cristo tinha paz. Pela certeza da salvação que tinha, aguardava ansiosamente a vinda de Cristo, pois o céu era seu alvo.
            Na versão para o a Língua Portuguesa, algumas modificações na letra foram feitas para uma melhor adaptação à melodia original. William Entzminger a traduziu em 1908, utilizando expressões relativas à época. Nesse contexto, expressões como tua mercê eram utilizadas no sentido de tua graça e também como referência às pessoas que mereciam respeito no trato, apesar de já ser usado como tratamento geral, independente de hierarquia. Vale salientar, igualmente, que o pronome na segunda pessoa do singular tu era utilizado no lugar de você, uma derivação de vossa mercê.
 Até o século XVIII, no Brasil, a língua falada era chamada de “geral”, mas na escrita era utilizado o português oficial. Estudos realizados pela professora Célia Lopes (2003) da UFRJ com relação ao uso dos pronomes revelam que no século XIX a forma de pronome mais usada era o tu, em segundo lugar você, em terceiro vossa mercê e em quarto vos. Dentro deste contexto, a tradução deste hino foi feita com o uso do pronome tu por ser este o mais usado na época.


CONCLUSÃO

Como os hinos eram músicas populares em sua época, vale salientar que novas modificações na linguagem da música sacra e gospel ocorreram, tal como vemos nos dias de hoje, e com certeza muitas outras ocorrerão com a era digital e daí pra frente, por isso não devemos impedir que se utilizem nos cultos novos ritmos e músicas desde que isso seja feito com respeito e decência em se tratando de ser a Casa de Deus.
Concluindo, toda letra de hino ou louvor, precisa ter coerência quanto ao tema que se propõe, observando sempre o contexto bíblico e a experiência pessoal do autor com o autor da vida, o Verbo.



REFERÊNCIAS

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GONÇALVES, Clézio Roberto. De vossa Mercê a Cê: Caminhos, Percursos e Trilhas. Disponível em <http://www.filolofia.org.br/xiv_cnlf/tomo_3/2535-2550.pdf>. Acesso em 24 set 2012.
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Hinologia: hinosprotestantes.blogspot.com.br. Disponível em <http://hinosprotestantes.blogspot.com.br/2010/10/hinologia.html>. Acesso em 24 set 2012.
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QUEIROZ, Inti Anny. Análise diacrônica dos pronomes pessoais e pronomes de tratamento na Língua Portuguesa. Revista de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Linguística e Literatura. Ano 7, n.14. Ed. Especial. Disponível em <http://www.letramagna.com/art9_XIV.pdf>. Acesso em 24 set 2012.
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