REFLEXÕES SOBRE O MITO DA CAVERNA

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Trabalho apresentado ao curso de Licenciatura em Música da Faculdade Nazarena do Brasil como parte dos créditos exigidos na disciplina de Introdução à Psicologia sob a orientação da Profª. Heloísa Mara Luchesi Módolo.


REFLEXÃO

            É muito fácil perceber de imediato que este mito trata do próprio filósofo Sócrates e a razão que o levou a ser julgado e morto. Não é muito diferente de outros pensadores – que levavam ou não o título de filósofos – que acabaram tendo um destino semelhante, como o exemplo de Jesus. O Mito da Caverna, de Platão, trata de mostrar como o processo do descobrimento do conhecimento se dá, levando o leitor a pensar sobre o assunto, que pode desencadear um processo de autodescobrimento. A explicação que Platão dá ao mito facilita esse desencadeamento. Ora, o verbete desencadear significa “soltar as cadeias ou grilhões” (DICIO.COM.BR, 2013); “provocar” (FERREIRA, 2001, pp. 219-220).
            Os prisioneiros presos aos grilhões, que são as pessoas presas aos medos – e sobre estes medos falaremos a seguir -, vivem nessa caverna, que é um mundo limitado, sem perspectiva; poderíamos dizer que é um lugar de conforto, no sentido de que, ao se acostumarem àquela situação, sentem que está bom, suficiente. O interessante neste quadro é que dentro dessa caverna existe, de fato, uma realidade que até então representa a verdade para aqueles que ali estão presos. Não há uma sensação de incômodo, pois estão ali há muito tempo. Essa realidade, no discorrer do Mito, representa um estado de ignorância que os prisioneiros ignoram.
            Não são poucas as vezes em que nós, em pleno século 21, nos encontramos em cavernas semelhantes, acomodadas numa zona de conforto mental. Isso não representa exatamente um estado de ignorância, pois muitas vezes há o conhecimento de que existe “algo mais”, porém essa zona de conforto é o medo que mina o processo de iniciativa. Medo de se expor, de se cansar, de se frustrar, de perder, o pensamento da falta de oportunidade. Os que vencem essa barreira são como o prisioneiro que conseguiu fugir e que agora tem a oportunidade de conhecer a verdade além da caverna. Mas, que verdade é essa?
            Como mito, há uma aplicação universal dos elementos expostos por Platão, portanto a verdade é a imagem completa e repleta daquilo que enxergamos de forma limitada e distorcida dentro da caverna; é o conhecimento das coisas, que alimenta e tenta saciar a fome do prisioneiro que se libertou.
            Encontrar a verdade é desprender-se de confiar completamente no senso comum. Ora, o senso comum não significa algo simplório, mas passível de fundamentações científicas, filosóficas, racionais, que explicarão de alguma forma organizada a natureza das coisas.
            Ao sair da caverna, os homens se deram a oportunidade do desenvolvimento da humanidade, de conhecer o que havia além da ponta do iceberg. Através de questionamentos, busca-se dissecar o objeto de interesse afim de um conhecimento aprofundado que justifica, explica ou ensina o porquê das coisas. Aquele que possui o conhecimento, no entanto, não o possui apenas para si mesmo, tendo a missão, ou tarefa, de compartilha-lo com aqueles que ainda estão dentro da caverna, libertando-os de seus grilhões, medos, conformismos e ignorância. Jesus mesmo disse que a liberdade seria alcançada pelo conhecimento da verdade. Ao conhecedor cabe a tarefa de buscar meios de ensinar aos outros e revelar o caminho do conhecimento.
            Ensinar causa incômodo, ou melhor dizendo, desacomoda. O ensino, aplicado da forma correta, produz um sentimento de desconforto no aluno que o inquieta e induz ao caminho do conhecimento. Vale ressaltar aqui a etimologia da palavra aluno, que vem do latim alumnus, alumni, significando lactante, criança de peito, ou seja, o aluno precisa ser alimentado com o conhecimento para poder crescer. Obviamente alunos não são apenas as crianças, mas todos aqueles que não possuem o conhecimento.
            Qualquer um pode ser o mestre? A resposta que de imediato vem à mente é não. Como poderia uma criança ensinar um adulto? Porém a verdade é que o mestre precisa trilhar o caminho com antecedência, seja cientificamente ou filosoficamente. O mestre é o prisioneiro que escapou dos grilhões, conheceu a verdade e voltou para contar. Se foi aceito ou não, é uma questão de escolha dos outros prisioneiros. Pedro Bial disse uma frase sobre a verdade que cabe aqui:

“A verdade pode vencer, mas para que seja verdade, alguém tem que acreditar nela. E para alguém acreditar na sua verdade, é preciso que alguém escute. E para que alguém escute, é preciso que você desperte o interesse. Para ser interessante, há que ter imaginação." Vocês dois tiveram imaginação para despertar interesse, fizeram a gente parar pra escutar e acreditar. Sua verdade venceu. (Discurso do Bial, 2013)

            O mestre, prisioneiro que se libertou dos grilhões, precisa despertar o interesse nas outras pessoas para que superem a ignorância.
            Em tempo, é interessante pensar que fora deste processo há uma complicada rede de cavernas em cada ser humano, pois se pode encontrar a verdade em uma determinada área, mas estar preso em outra, de tal forma que o indivíduo que alcançar este estado de autoconhecimento procurará se desprender de todos os grilhões que verdadeiramente lhe aprisionam.


REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 4. ed. rev. São Paulo: Moderna, 2009.
BÍBLIA. Português. 1995. A Bíblia Sagrada: contendo o Velho e Novo Testamento. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Corrigida. Ed. de 1995. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
CHAUI, Marilena. Iniciação à filosofia: ensino médio, volume único. São Paulo: Ática, 2010.
Dicionário Online de Português: dicio.com.br. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/desencadear>. Acesso em 27 mar 2013.
Discurso do Bial: especiaiss3.tvg.globo.com/bbb/bbb13/discurso-do-bial/. Disponível em <http://especiaiss3.tvg.globo.com/bbb/bbb13/discurso-do-bial/>. Acesso em 27 mar 2013.
EBEJER, Walter Michael, Dom. A teoria platônica das formas: com especial referência a sua cosmologia no Timeu. União da Vitória, PR: UNIUV, 2010.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da língua portuguesa. Coordenação de edição: Margarida dos Anjos, Marina Baird Ferreira. 4. ed. rev. Ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
WIKIPEDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Wikip%C3%A9dia&oldid=15762238>. Acesso em 27 mar 2013.

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